"Paranoia" (poesia)

24/07/2021 18:03

Paranoia

 

eu não via, mas sentia

um rio muito sereno

levando meu pensamento

 

eu sentia, eu vivia

equilibrada numa prancha

sobre águas muito brandas

 

nunca vi com os olhos o navio,

que, ao meu lado, passou

com repentino estrondo

oriundo do motor

 

não via, mas sentia

o profundo do mar

súbito, aqui estou

não há mais volta

e o rio seguiu sereno

levando meu pensamento

 

de repente, uma corrente fria

que agora me guia

não consigo sair deste percurso

vejo vultos

não controlo mais os impulsos

quero cortar os pulsos!

 

tudo ao meu redor é susto

não há refúgio

e o custo pra escapar desta fria

não paga o navio de partida

não há saída...

o que fazer da minha vida?

 

oh, a minha mente sabe

a natureza desta correnteza,

mesmo assim continuo controlada

por estas águas tão geladas,

inexatas

 

minha mente se prende às correntes

cobra do mar agitada

lançando veneno,

necrosando-me por dentro

cobra que me enrola

destroçando-me a vida,

a memória...

 

quero embora!

mas o fluxo deste percurso

me puxa e me trava

no obscuro submundo

infinitamente turvo,

surdo ao surto

suicídio...

(Kátia Surreal: 23/7/2021)