"Carnaval galiotto: à memória de Mário de Andrade" (poesia)

24/04/2022 10:53

Carnaval galiotto

 
à memória de Mário de Andrade
 
a poeta palhaça vai à rua
fantasiada de alegria
a fotografia é borrada
quem desconfia
que escorre seco
uma graça sombria
em seu rosto
e no roto do povo
a se deliciar com seu autêntico galiotto
 
a máquina da poeta, de supetão,
escapa-lhe das mãos
cai na multidão
abre-se o zoom
vê-se o beco
os bicos e a boca
e a carioca se amplia...
 
há uma gota dionisíaca
na moral que rege a folia
quem desconfia?
festa, fetiche, mercadoria
 
a escrava que não é Isaura
salta feito sapo
bem ali, do outro lado,
agitando a Rio Branco
com seu aurífero tamanco
tão logo beija o palhaço
 
enquanto isso,
Isaura submissa se solta
do seu par, que procura Madame Satã
Ãh?!
 
bem sei que teus anteolhos leram
que a não Isaura assaltava
só que não há mesmo assalto!
senão o que anda descalço
e ninguém vê
na alegoria lundu, cateretê,
sem capoeira
desde o vosmecê
até a presente brincadeira
arerê, arerê,
um lobby, um hobby, um love com você
 
ops!
pausa que o ris(c)o é febril
no mundo
e no Brasil...
pacapacapacapão!
pancadão!
para não!
pão e pó
oh! oh!
na folia, ninguém anda só,
que o contatinho já espera
à janela virtual
nada mal...
 
e todos cumprimos a promessa de gozar
ah, mas para não, para não!
don't stop!
pois aqui, amigo,
ninguém dorme
quem tem um sonho não dança
e hoje o morro não desce
que a estrela é um segredo de star
e não estar
 
bonjour, princesa,
arlequim, tupiniquim
pirlimpimpim
tiro de mim a máscara
a selfie, a poesia
a que te me serve?
(Kátia Surreal)
 
Tema do mês da Ecos Poéticos: Centenário da Semana de 1922
Texto de inspiração: "Carnaval carioca", de Mário de Andrade
*Publicado inicialmente na comunidade Ecos Poéticos, do Instagram: www.instagram.com/p/CZwegMLM12Q/