"Bilhetinho sensual" (conto)

13/05/2021 19:12

Bilhetinho sensual

 

            Fui entregar um botijão a um homem de voz jovial. Eu estava pra lá de largado: sem desodorante e a barba por fazer. Não arranjava ninguém desde que a minha patroa se foi. Por isso, a pança de chopp só crescia, e eu vivia maltrapilho.

            O rapaz, reparando a minha exaustão, disse pra eu ir até a geladeira tomar água. Ele estava muito ocupado, concertando uma TV. Foi então que me deparei com um bilhetinho inusitado, debaixo do pote de manteiga, na geladeira:

            “Te quero muito ainda, amor. Me despreza não, viu? Vem aqui hoje, na esquina do Boreal, às 22h. Vai ter o que sempre me pediu. Bem gostoso! Tô com a chave do patrão!Vem! Bju, Xaiane.”

            Me senti ansioso com o recado. O bom é que eu conhecia o tal bar Boreal. Não poderia perder essa chance. Finalizei o serviço, dei o brinde pro cliente, uma colher, e meti o pé dali, sem lhe entregar o bilhete. Tive o entrave de sair tarde do trabalho, os pepinos, sabe; mas isso me excitou mais ainda.

            Não houve tempo pra asseios, fui do jeito que deu. De longe, notei que a tal Xaiane era muito alta. Depois, vi que era o rapaz da voz jovial, só que travestida. Me enganou direitinho! Confesso que foi a sujeita mais sensual que já vi. Que mulher! Não resisti aos seus encantos. O lance durou sete anos. Que tesuda cilada!

(Kátia Surreal)

 

                 

Foto da Comunidade Contos Livres (Instagram) onde o conto foi divulgado em 11/5/2021.